domingo, 12 de julho de 2009

A mulher selvagem


A que uiva, a que sabe do que necessita e corre em busca do que necessita.
Sim, porque a muito não sabemos do que realmente necessitamos.Temos casa, trabalho bem sucedido, família, marido, bens, dinheiro, e quando olhamos para o fundo da nossa alma vemos que não era nada disso do que precisávamos.
A cada conquista vamos afundando a nossa natureza selvagem, para nos adequar às formas da sociedade, da religião, da tradição.
Não quero com esse texto expressar revolta, embora ela às vezes venha á tona como um sentimento não muito saudável. E essa revolta que sinto é única e exclusivamente em relação a mim mesma, não a ninguém.
Quero escrever este texto para me dar esperança de que sou consciênte de cada passo que dou em minha vida, seja ele contra ou a favor da minha alma.
Estava lendo novamente a introdução do livro que inspirou este blog (Estés, Clarissa Pínkola:Mulheres que Correm com os Lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem Rio de Janeiro:Rocco, 1994) e me lembrei claramente de como me sentia aos meus 12 anos.
Eu visitava o sítio da minha tia que morava no interior de Alagoas em uma cidade do Agreste chamada São José da Laje, lembrei - me claramente, como o sol nascente iluminando minha mente. Um rio corria na frente do sítio, a terra respirava aos meus pés e o cheiro dos animais, do adubo e da sárvores enchia toda a atmosfera. Eu ia até aspedras do rio e ficava lá... olhando... com medo de alguém me achar louca, mas ele me chamava sempre que eu chegava no sítio.
Quantas vezes meu pai, minha mãe minha tia me censuraram porque eu queria andar, pular, sujar-me de terra entrar no rio ... mas eu já era uma "mocinha". E foi exatamente assim que comecei a ter medo de ser selvagem, porque queridos leitores, nos meus 12 anos eu era selvagem e eu nem sabia disso., eu descobri o mundo sozinha, eu observei o mundo sozinha. E a criança, a mãe, a donzela e a Anciã que estão dentro de mim eram vivas, todas as faces daDeusa eram vivas em mim!
O livro explica bem o que é ser selvagem, eu posso dizer que eu reesumo ser selvagem em "algo que não se domestica". E o que é domesticar? É moldar o comportamento de um animal para servir ao homem. (muitos risos). Engraçado como isso não se aplica somente a animais, a quanto tempo nós mulheres não somos domesticadas? Engraçado alguns dicionários definirem a palavra domesticidade= familiaridade.
Mas porque tudo precisa ser familiar??
Porque tudo precisa ser igual?
Voltando à minha infância, como sinto falta do fogo que eu sentia queimando meu coração cada vez que eu encontrava algo na beira do rio, uma pedra, uma pena de uma ave, quando via um cavalo ao longe... e quando montava... quando colhia frutas das árvores, laranjas, acerolas, maracujás.
Certa vez me lembro que estava em baixo do péde maracujá quando avistei uma folha totalmente coberta por lavas. e certa vez descobri uma nova planta que deu um fruto que ninguém conhecia... era da minha altura a arvorezinha...
Lembro-me que eu falava com o açude, e com o vento e ao anoitecer o coachar das rãs me respondiam.
A noite era escura e intensa... era maravilhosa !!!
Eu sentia muitas emoções, eu era cheia de vida, e a Grande Mãe sempre tentou me acompanhar.
Na faculdade que fiz também em outra cidade das Alagoas, eu podia visualizar duas lagoas encontrando-se com o Mar... um fenômeno raríssimo... só há mais um lugar no mundo que se pode ver essa maravilha. Lá dentro havia muito verde e foi lá dentro do Campus que eu senti pela última vez o "fogo" queimar minhas entranhas. Foi quando plantei uma muda de Oliveira!!!
E ainda pude sentir algumas fagulhas ao sentar debaixo dos pés de manga (de saia mesmo) na hora do intervalo.
Hoje olhando o que sobrou da Natália de 12 anos, sinto um vazio, por não ter nunca me entregado de corpo e alma ao rio... quem sabe ele não teria me levado paraminha família de cisnes... ou até mesmo poderia ter me perdido na floresta e ter encontrado Baba Yaga, a Bruxa da casa de doces, ou até mesmo poderia ter encontrado minha família de cisnes, deslumbrantes, aplaudindo-me por eu ter penas negras!

Me pergunto se conseguirei resgatar a Loba... é tão simples e ao mesmo tempo tão complicado .
Trata-se de coragem.
De destemor, de "peito" para enfrentar a dor, "assim como a loba que matou seu filhote que estava mortalmente ferido"- introdução, página 17-.
Enfrentar as perdas,. SSer eu mesma... ter 12, 25 e 90 anos em apenas um dia.
Confesso que senti meu coração em chamas escrevendo este texto!
Aos poucos ela arde eo deixa em carne viva... viva!!
Como é bom sentir o êxtase da vida, e deixar o rio me levar assim como as pedras.
Paz ebençãos para todos!
E que nós continuemos sempre correndo farejando nossa alma, com as orelhas de pé e os olhos brilhantes. Com a intuição e a percepcão femininas à flor da pele!

2 comentários:

Unknown disse...

Olá!
Vlw pela visita...
Vc pode divulgar os seus blogs em comunidades do orkut...ajuda bastante...atualizar tb ajuda (eu mesma deveria estar seguindo esse conselho, pois eu "abandonei" o meu próprio blog por algumas semanas...rs)

bjs

S. Thot disse...

Poxa Naty, que ritmo!!! Eu mergulhei na cenas cenas. Vi o rio, o mar, as rãs, o céu profundamente azul e a noite escura.

Mergulhar dentro da gente, a medida que o tempo passa, é um exercício perigoso, não?

Vai-se descendo as escadas, trocando as lâmpadas pelo caminho, abrindo portas enferrujadas e retirando das estantes grandes livros empoeirados.

Ando remexendo muito nos meus, ultimamente. E toda vez que eu subo, ao invés de voltar mais civilizado, retorno mais bicho. Reverso cultural!!! Kakakakaka!!!

Vai fazendo as pazes com a pequena Natália dos Sertões. Encontre-a e deixe que ela lhe mostre umas coisas esquecidas. Ambas merecem.

Abraços!!!